nunca gostei de verde.

Não sei de onde veio, mas sempre cresci com a ideia de que olhos verdes são olhos esperançosos, olhos azuis são da cor do mar. Mas eu tenho olhos castanhos.

Quando a hora chega de falar de olhos castanhos, as pessoas dizem sempre "que olhos bonitos!" à falta de melhor.
O meu cabelo também é castanho. E caramba, eu gosto tanto do mar. 

Queria olhos azuis e cabelos azuis também.

Pedi à minha mãe um dia que me deixasse pintar o cabelo de azul violino, que mais tarde aprendi que era roxo e não azul. Não podia ser o mar . 

É engraçado as prioridades que se tem em tenra idade.

O castanho tornou-se a minha cor favorita. A cor do meu cabelo, dos meus olhos, do chão da minha casa. "É a cor mais aborrecida de todas", oiço sempre.  Mas olhos castanhos são sempre bonitos.

A contradição da vida é mesmo esta. Tal como o verde esperança é o verde de inveja. 

Esqueceram-se de arrumar na mochila, que não nos deram à nascença, o dicionário das cores, parece-me.

A esperança para mim, tem as rugas do tempo. Tem o gosto ao chá que se bebe na esperança (ah!) que acalme a alma depois de outra viagem ao hospital. Tem o som do vento em dias frios que teima em não ir. Tem a forma do peso das horas que não passam. Tem a força da mão amiga que se estende.

Tem o som do motor do avião que apanho quase de mês a mês. 

A cor, essa eu não sei. 

E perdoem-me se gostam de verde.
Se calhar, até é azul.