Book Review: Burnt Sugar de Avni Doshi

Não é que a temática que Avni Doshi apresenta na sua primeira obra seja inovadora; é a maneira crua, intimista e até desconfortável que as suas palavras trazem sobre o assunto, que diferencia este trabalho.



“Sometimes I cry when no one else is around – I am grieving, but it’s too early to burn the body.

 Antara e Tara, filha e mãe, navegam uma fase nova da vida em comum em que Tara começa a apresentar sinais similares a demência / Alzheimer. Apesar de Tara viver sozinha, a frequência dos seus lapsos de memória e situações de risco começa a aumentar. Alinhado com a falta de diagnóstico médico, Antara toma a responsabilidade de cuidadora da mãe, um papel tingido por resentimento e suspeita.

“When the moon was full, my mother would burn sandlewood incense throughout her flat with the windows closed. Kali Mata had told her to do this to vanquish evil spirits and mosquitoes. 
We stopped the practice for a year when the doctor said it was giving me asthma. 
Ma believes that was the year everything went wrong.”

Somos apresentados lentamente, numa narrativa que oscila subtilmente entre o passado e o presente, à infância de Antara, permutada por trauma geracional, oscilações de cuidadores e abandono. Graças a isto, somos confrontados com a constante necessidade de Antara de procurar a aceitação da mãe, enquanto o ódio e a paranóia andam de mão dada. 

A sua fervência e dedicação em recuperar as memórias de Tara, acabam por trazer Antara numa espiral de memórias, repulsa e reflexão, mostrando ao leitor o porquê das escolhas da narradora na vida adulta serem o reflexo da sua vivência atribulada e quiçá perturbadora com a mãe.

“We are all unreliable. The past seems to have a vigour that the present does not.”

Confesso que o que mais me agradou no livro foi também o que mais me causou desconforto: a crueldade de Tara, pautada por descrições enriquecidas de refeições típicas, mas também de fluidos e cheiros corporais.

O que Doshi apresenta é um mergulho em casamento, amizades, fanatismo religioso, intimidade e impulsos. O "gosto" que nos deixa é o de Açúcar Queimado, doce, rico e melancólico.

Li este livro graças ao Clube do Livra-te, da Joana e da Rita, e sei que ficarei de olho na autora!

Classificação: 4/5 ⭐
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Soundtrack aconselhada: Hurt de Arlo Parks


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