Book Review: Hamnet de Maggie O'Farrell
A premissa deste livro é até bastante simples: Hamnet, o filho de 17 anos do tão famoso bardo Shakspeare, morre do que suspeitamos ser peste bubónica. E se já estão a revirar os olhos à menção de Shakespeare não desesperem por dois simples motivos: primeiro porque Maggie O' Farrell nunca menciona este nome (sempre mencionado como "o pai", "o marido",entre outros); e segundo, porque esta é uma história de dor, luto e tragédia no feminismo.
A autora apresenta duas timelines no decorrer deste livro começando no dia em que Judith, a irmã gémea de Hamnet, fica doente e a segunda, a navegar ao passado, ao início da relação apaixonada dos seus pais, 15 anos atrás. Toda esta acção decorre em Stratford, Inglaterra, no século 16.
Na segunda timeline, somos apresentados a Agnes, a mãe e uma mulher que conhecemos dos registos que temos de Shakspeare como Anne Hathway. Agnes é sem dúvida uma força da natureza, destemida, moderna, uma curadeira e um espírito livre, que tal como a mãe, prefere o comforto dos bosques ao resto do mundo. Agnes é também uma espécie de Cinderela na casa da sua madrasta, onde o futuro dramaturgo - ainda um jovem de futuro incerto aqui - é tutor de latim, abusado pelo seu pai também. A maneira como a história de amor ocorre é poética, absorvente e até supernatural por vezes (algo que Agnes traz a este livro).
Apreciei bastante o tempo que a história de Agnes levou a ser contada e achei essencial para prender o leitor, como um tapete a ser construído, culminando num final inevitável, pontuado pela dor de perder um filho.
Hamnet é um rapaz dócil e no pico da transição de criança para adolescente, desesperado por ajuda para a sua irmã, a correr numa casa vazia no limiar da esperança, é como um actor em palco, desprovido de outras personagens da peça - algo que sabemos ser o resultado desta tragédia e a maneira como pai deste rapaz consegue eventualmente lidar com a dor.
Este foi um dos livros que mais me fez chorar (no meio da rua, antes de entrar para a piscina!). Apaixonei-me pela escrita, poética e triste, o pós da morte de Hamnet onde as mulheres da sua vida continuam perdidas sem ele e pelo fio conductor do tema de continuar a viver com o vazio deixado por alguém. Sem dúvida, um livro para a vida.
Classificação: 5/5 ⭐
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